Thursday, February 6, 2014

Pontapés na alma

O novo disco dos Xutos é tão bom como de costume, mas pôs-me a pensar nas letras mais do que é habitual.

Numa das músicas, o "narrador" passeia o cão numa cidade decadente, de lojas fechadas. E, para cúmulo, o cão não é dele. É do irmão. Que "emigrou para o Tibete, faz-lhe festas pela internet".

Pensei logo no A. e no seu melhor amigo, agora no Dubai, que brincam longas horas via skype aos sábados (porque ao domingo lá é dia de escola). Tenho tentado não entrar em nostalgias e fatalismos com esta história da emigração. Primeiro, porque mesmo antes da crise os mais jovens já andavam a correr mundo. Depois, porque este mudou, as viagens mudaram, os empregos mudaram. Aliás, a avaliar pelas notícias desta semana, é muito mais fácil ir ao médico a Londres do que um miúdo de Bragança arranjar um hospital a menos de 400km de casa.

E este corropio de gente a ir e vir não é exclusivo de Portugal. A facilidade com que se muda de casa, de cidade, de país, é cada vez maior e muito dificilmente as coisas voltarão ao que já foram, a globalização veio mesmo para ficar. Mas, sabendo tudo isto, não deixo de sentir um espinho na alma quando penso que uma coisa é querer ir, outra é ser obrigado a fazê-lo. E nem sempre para melhores condições.

Quando vejo o facebook de uma jovem que conheço que está neste momento a começar o seu estágio de sonho, no Japão, fico contente por o mundo ser todo dela. Mas o facto de este implicar horários de trabalho perto do desumano, deixa-me a pensar que a compensação de se estar no lugar sonhado poderá não compensar se essa for a única diferença entre estar ali ou numa fábrica a fazer chouriços a metro.

Não tem conclusão, este post... as verdadeiras boas e más consequências ainda estão para se ver e saber.

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