Tuesday, May 15, 2007

Verão (que) é mesmo assim

Estamos todos a suspirar pelo Verão, pelas férias (a silly season, como lhe chamam agora, que podemos traduzir por "estação pateta"...), pelo solinho da praia, enfim, por todas aqueles momentos sem horários nem chefes, que sabem a gelado e a estar com a família. Claro que a nossa memória apaga, convenientemente, os dias de quarenta graus, em que só se pode sair com os miúdos depois das seis da tarde, as praias mais ou menos superlotadas, as constipações de Verão...

Para aqueles que partilham connosco as idas a São Martinho, esquecemos também as hipóteses de, pelo menos, um mês de nevoeiro, a Rua dos Cafés com gente a mais, os preços que sobem na Praça e, em geral, a invasão anual de banhistas.

Pois é, embora já não seja bem como era dantes, ainda temos bem presente a distinção (que cheguei a ver escrita num cartaz de Verão) entre locais, banhistas e turistas. Os últimos são meia dúzia de estrangeiros que por lá vão aparecendo, sobretudo em Maio e Junho. Os locais somos nós, pois então! O pessoal da terra, ou com raízes fortes nela. Os banhistas... como definir um banhista? Tem de ter vários apelidos, de preferência sonantes, tem de ter pelo menos três filhos, chamar à praia Salgados (em vez de Salgado) vir (preferencialmente) de Santarém, ir ao baile da chita, usar mocassins (ou sabrinas) e ter um médico na família. Se não tiver uma (ou todas...) as condições, tem - pelo menos durante o mês de Agosto - de agir como se as tivesse.

Tempos houve em que os banhistas me irritavam profundamente. Nem punha os pés no lado da baía por onde eles andam e todos aqueles tios e sobrinhos me buliam com os nervos. Hoje, já convivo com eles com mais naturalidade, mas há uma coisa que continua a revoltar-me: a forma como todas aquelas pessoas chama sua à minha terra durante umas semanas, mas são incapazes de fazer alguma coisa por ela - mesmo quando a sua instrução ou posição política o permitiriam.

Há excepções, é certo, mas, para a maioria, São Martinho não passa de um cenário para a sua "estação pateta". E a patetice, às vezes, não tem limites. Reproduzo aqui um diálogo que ouvi uma vez. Chegou à janela uma mãe, a falar para dois miúdos que andavam de bicicleta:

- Zé Maria, o seu pai não é médico?
- É.
- É que queria falar com ele para ver o pé da Marianinha, que está inchadíssimo...
Diz o outro miúdo:
- O pai dele é médico, mas é dentista!

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