Monday, May 20, 2013

Não tenhas medo, L.!


Gosto mesmo dos Deolinda. Gosto deles desde o início, mas o meu respeito e gosto pela sua música tem vindo a crescer a olhos vistos. A música que se segue é daquelas que sou capaz de passar horas seguidas a ouvir.

Vejo-a a acontecer à frente dos meus olhos sempre que vou às Terras da Costa, por causa do projeto Fronteiras Urbanas, onde caí de para-quedas e aterrei de coração.

E quando vejo a D. Vitória, que há uns meses nem sabia escrever o nome, a assinar e votar nas eleições para a Assembleia de Bairro fico comovida. A D. Vitória que, juntamente com algumas centenas de pessoas, vive em condições que não deviam ser permitidas em pleno século XXI, às portas de Lisboa. Que trabalha em campos regados com rega automática mas não tem água na sua casa, a dez metros de distância. Que tem sempre, mas sempre, um sorriso na cara.

Não consigo deixar de pensar que há um desconhecimento que leva ao medo. Como diz a música, há uma injustiça cega, triste, preconceituosa. Um grande momento do projeto foi quando o chefe da esquadra local lá foi fazer uma sessão de alfabetização. Sinto-me privilegiada por poder contribuir, à minha pequena escala, para algumas coisas que estão a mudar, para melhor. E, sinceramente, quem mais aprende sou eu, cada vez que lá vou.

E este é o post que ainda não estava feito, dedicado à L., que está para nascer e pode ter a certeza de que vamos fazer tudo para que ela cresça num mundo melhor do que este.




Medo de mim

Quando me queres incluir
e me pões a dormir
num bairro qualquer por ai

E a lição de bem-estar
é nao incomodar
quem veja incómodo em mim

Por mais passos que eu dê
mesmo sem querer
irei sempre bater
ou esbarrar contra ti

É teu o meu espaço
e p´lo teu embaraço
pelas portas d´aço
eu já percebi:

Tens medo de mim
Tens medo de mim
Tens medo de mim

Quando me vens revistar
só porque dou ar
de não ser daqui nem dali

E para me proteger
impões um poder
que não olha a meios pró fim

Todo o gesto que eu faça
é vil ameaça
que anulas e esmagas
e vejo assim

que a força que empregas
é injusta e cega
nao vê em quem acerta
e acertas em mim

Tens medo de mim
Tens medo de mim
Tens medo de mim

Quando me culpas e prendes
tudo porque entendes
que isso é melhor para mim
 
Eu, mesmo inocente,
sou sempre diferente
porque nao sou igual a ti

Agora, não entendo,
porquê este medo
brutal e tão extremo
que a ninguém faz crer

que estou na cadeia
porque a tua carteira
caiu, apanhei-a,
e quis devolver

Tens medo de mim
Tens medo de mim
e eu medo de ti

 

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