Sou portuguesa aqui, como tão bem disse o José Fanha.
Sou portuguesa de esquerda, sempre fui. Dou um imenso valor a ter crescido neste país e neste tempo, a ser mulher e poder escolher a minha profissão, andar na universidade, sair do país se quiser (sem autorização escrita do marido) e educar os meus filhos para dizerem sempre o que pensam.
Lembro muitas vezes o meu avô Z., que - com políticas ou sem elas - dizia sempre o que pensava. E o meu avô Q., que até aos 94 anos, viveu a vida segundo princípios de compreensão, calma e tolerância. Ambos nasceram e cresceram num Portugal que, felizmente, já não existe. E, também eles, foram portugueses aqui.
Sou portuguesa aqui, num aqui que - há que ser justa - me tem sempre sorrido. Em parte por sorte, em parte porque para isso me esforço muito, em parte porque lhe sorrio sempre de volta.
Como todos os portugueses de aqui, tenho hoje motivos de revolta, de preocupação, de gestão do dinheiro para sobreviver. Como (quase) todos quero uma justiça melhor, mais igualdade de oportunidades, menos tachos e menos escândalos políticos e financeiros. E não quero o FMI, os rankings e outros países a mandar na minha vida.
Mas não acredito que fazer greve amanhã ajude a resolver qualquer um destes problemas. Para mim, uma greve faz-se para negociar algo concreto e não para mostrar insatisfação. Mas isto é para mim. Respeito todos aqueles que não pensam como eu e que acham que esta ainda pode ser uma forma de luta.
Agora o que já me parece inadmissível é que haja cartazes espalhados pela cidade a incitar veladamente à violência, ao piquete para impedir quem decide livremente trabalhar de o fazer. Ainda por cima, cartazes supostamente "de esquerda". Onde está esta esquerda nos dias de eleições?
O meu Portugal e a minha liberdade não são estas. Desejo por isso um óptimo dia de greve a quem decidir fazê-la e um óptimo dia de trabalho a quem decidir não se calar trabalhando.
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