Um dia destes, no jardim ao pé da escola (que, por sinal, é um espaço onde se passam as mais estranhas e variadas coisas) ia a passar e ouvi as seguintes palavras, vindas de uma de três mulheres sentadas num banco:
"- Ela disse que não tinha nenhuma obrigação. Eu disse-lhe, não tens a obrigação mas tens o dever."
Este esmiuçar - como se diz agora - das palavras é uma coisa que me seduz sempre. Esta frase deu-me que pensar na viagem de metro para casa. Lembrei-me que, antigamente, se chamava "deveres" àquilo a que hoje se chama "trabalhos", como se fazê-los não fosse obrigatório, como se valorizássemos mais a execução de uma tarefa do que o imperativo moral de a fazer. Afinal, que satisfação podemos tirar de um trabalho? Não é melhor ter um dever cumprido?
E esta diferença entre obrigação e dever é interessante. Podem parecer sinónimos mas não são. Porque eu posso mesmo não ser obrigada a fazer uma coisa, ter a opção de me borrifar e virar costas, mas ainda assim ter o dever (moral, social) de a fazer. E, pelo menos segundo esta senhora (e eu inclino-me a concordar com ela), é muito mais grave fugir a um dever do que a uma obrigação.
1 comment:
É curiosa a diferença, não é? E tão pequenina, mas tão importante. Ocorre-me como exemplo quando explico aqui que votar, em Portugal, não é "obrigatório", mas que é um "dever cívico". As pessoas não entendem, talvez porque cá votar é obrigatório e é um dever. E há multas para quem não vota. Para mim, é um bocado anti-democrático.
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