Hoje a minha mãe, que está em arrumações, "devolveu-me" a minha caixa da correspondência, aquela onde eu guardei praticamente todas as cartas e postais que me escreveram até ter saído de casa dos meus pais. Passei um bom bocado a reler as cartas que a minha prima P. me escreveu durante toda a nossa adolescência, nos longínquos anos oitenta, cartas de amigos, ex-amigos, namorados, ex-namorados. Reli também as cartas que me enviavam quando estava no Erasmus, bem como algumas que eu escrevi à família nessa altura.
E tirei destes momentos algumas conclusões. A primeira é que nem que a troco do euromilhões eu queria ter de novo 17 anos... a segunda é que o país mudou tanto, mas tanto, que realmente deve ser muito difícil para quem nasceu depois dos anos setenta dar valor às tais conquistas de Abril, de que nos vamos esquecendo tanto.
Parece impossível mas, em 1994, escrevia eu cartas para casa em que me mostrava espantada com o facto de estar a conhecer pessoas que viviam numa cidade e iam passar um fim-de-semana a Helsínquia; ou a descrever um prato grego que era feito com "uma espécie de pepinos chamada courguettes". Ora, eu podia não ser a pessoa mais mundana e sofisticada de Lisboa, mas a verdade é que - nessa altura - viajar para o estrangeiro num fim-de-semana ou comer courguettes não era muito comum num Portugal que tem mudado muito, e cada vez mais rapidamente, nestes 34 anos. E, com alguns enfins, na generalidade, para melhor, diria eu...
Quando vejo hoje a abertura ao mundo que a maior parte dos jovens tem não posso deixar de pensar que, há escassas três décadas, uma mulher não podia sair do país sem autorização do marido e que vivíamos num território encolhido, parado - no espaço e no tempo. Por isso, e porque foi a 25 de Abril de 1974 que começou a única democracia que até hoje tivemos, 25 de Abril sempre!
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