Faz hoje 36 anos, eu tinha três e meio, estava em casa da minha avó e acabou o fascismo, a guerra colonial, a censura, a discriminação legal entre sexos. E a minha mãe estava grávida da J., o nosso bebé da Revolução e da liberdade.
Sinto sempre que sou privilegiada por ter crescido nos anos 70, por ter vivido, ainda criança, os primeiros anos da liberdade, quando acreditávamos que o país só podia mudar para melhor. Para mim, é um privilégio de geração conseguir apreciar tudo de bom que veio depois, sem esquecer que as mudanças foram muitas e que o antes era muito diferente, e ter ainda muitos anos pela frente para - à minha mais do que modesta escala - ajudar a melhorar o mundo.
Aprecio imensamente viver no século XXI, num país onde posso ser quem quero, dizer o que quero, educar os meus filhos como quero. As gerações antes de mim não tiveram essa sorte (basta falar do desperdício que foi não ter dado escolaridade a milhões de pessoas fantásticas que o país teve, ou dos milhares de portugueses e africanos que morreram na guerra), nem a têm muitas mulheres noutros sítios do mundo.
Por tudo isto, e porque acredito sinceramente que há muito mais pessoas boas do que más, vale a pena continuar a tentar, a formar pessoas melhores, a lutar para que as próximas gerações - mesmo sem terem crescido nos anos 70 - sejam muito melhores do que a minha.
E, agora, a J., que já nasceu em liberdade, vai ser mãe do M. Quando ele fizer seis anos e for para a escola, chegaremos ao ponto de viragem, teremos mais anos de liberdade do que de Estado Novo. Por tudo isto, e misturando história do país com a minha, obrigada J. e R.!
3 comments:
É um rapaz? Que bom! Exactamente o mesmo diria se fosse uma rapariga... Bj de Bragança
Fungagá, que bom escreveres sobre as coisas boas da vida, em vez de chorares sobre (abre grandes aspas) "os sonhos não cumpridos de Abril". Já chega de queixume e depressão, digo eu!
Obrigada também por mostrares a esperança que existe e todos temos e que vem personificada no bebezuquinho que há-de chegar em breve. Beijinhos e parabéns a toda a família, em especial à J e ao R!
Esperemos que nessa altura quando o meu M. chegue à escola que Portugal seja um país de inovadores e não de calimeros, que se refugiam nos anos de Ditadura de forma para esconder os erros e incompetência do líderes passados e actuais da Democracia. Demasiados sacrificios forma feitos por gerações passadas para que nós estejamos a desperdiçar tudo em Freeport, TVI, submarinos. Ass: R.
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